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50 anos de Democracia e Liberdade

Fotografia Graça Querido

Maria da Graça Querido, Divisão de Contratação Pública - RECURSOS

 

“No 25 de Abril de 1974 tinha 13 anos. Nesse dia não fui à escola, porque fomos avisados. Eu e a minha mãe ligámos a televisão e estava a dar uma reportagem sobre o que estava a acontecer. Embora não tivesse noção de qual era o tipo de governo que tínhamos anteriormente, os meus pais não eram pessoas muito dadas a coisas de política. Lembro-me que achei o máximo todos aqueles soldados nas ruas, para mim foi uma festa. Elegi logo dois heróis: Salgueiro Maia e Otelo Saraiva de Carvalho. Esse dia foi passado a ver o desenrolar dos acontecimentos.

Uns dias antes fui passar uns dias à minha terra, que tem como distrito Santarém, e vi na estrada no sentido de Lisboa uns tanques eram, talvez, uns 4 ou 5 e lembro-me junto com os meus pais de nos questionar sobre o que estava a acontecer. Mais tarde é que associei que esses tanques vinham de Santarém já para participar na revolução.”

 

 

Fotografia Rui Mouta

Rui Mouta, Direção de Serviços de Relações Internacionais e Comunicação - MUNDO

 

 

“Quinta-feira, 25 de abril de 1974, ia eu pelos meus 14 anos. O dia despontou cinzento. A mãe deu-me a notícia de que ficaria em casa e não iria ao liceu. O pai, que era funcionário na então Assembleia Nacional, saíra cedo, acabando por testemunhar a patética última sessão do regime que estava prestes a tombar. Fiquei por casa a ver episódios seguidos da série “Viver no campo”, de quando em quando interrompidos pela leitura de comunicados, em tom grave, mas veiculados por caras e vozes familiares, o que transmitia a tranquilidade possível. Aos sussurros da vizinhança, seguiu-se um crescente tom de entusiamo e expetativa.

Mal sabia eu como esse dia antecipava tantas transformações. O velho televisor Philips continuava, imperturbável, a mostrar os acontecimentos a preto e branco. Contudo, a memória que guardo é a de uma profusão de cores. Não mais os meus pais continuariam a sussurrar na sua própria casa quando se falava de política. A antecipada angústia da mãe com o meu serviço militar dali a poucos anos, foi substituída pela esperança do fim da guerra.

Adormeci feliz e entusiasmado, na expetativa ingénua de acordar no dia seguinte num mundo totalmente renovado. E, de facto, no dia seguinte o mundo apresentou-se-me diferente. Mais feliz.”

 

Fotografia Joaquim Vinagre

Joaquim Vinagre, Direção de Serviços de Relações Internacionais e Comunicação - MUNDO

 

 

“No dia 25 de Abril de 1974 tinha 10 anos e estava na escola primária, quando entrou o senhor da mercearia a dizer que ia levar os filhos de todos os guardas fiscais. Levava uma lista com nomes, recolheu esses alunos, enfiou-nos numa carrinha sem janelas e entregou-nos em casa.

Durante os três dias seguintes fiquei a ver as tropas acampadas à porta de casa, porque eu morava mesmo à entrada de Peniche, onde estava a fortaleza. Acabei por assistir ao desenrolar de toda a situação. Os meus pais não me deixavam sair para a rua e, então, espreitava pelos buraquinhos das persianas. Via as tropas com os canhões apontados para o forte. Não tinha uma noção concreta do que se estava a passar, sabia que era uma revolução e estava entusiasmado com toda a movimentação de tropas, o que, para um rapaz da minha idade, era muito empolgante de se ver."

 

Fotografia Ana Monteiro

Ana Monteiro, Direção de Serviços de Recursos Humanos - PESSOAS

 

 

"O meu dia começou com uma ida para a escola “primária”, no concelho de Caldas da Rainha. A manhã decorria normalmente, com as atividades escolares, quando apareceu o Senhor “Timbeque”, de alcunha, a dizer que tinha havido uma revolução de militares lá para os lados de Lisboa e que era melhor todos irem para casa. Como havia ocorrido em 16 de março uma tentativa de golpe de Estado frustrada, chamada Intentona das Caldas, a Professora, por sinal minha mãe, depressa acreditou e mandou todos os alunos para casa.”

 

Fotografia Emília Correia

Emília Correia, Núcleo de Comunicação - MUNDO

 

 

"No dia 25 de abril fui para o liceu S. João de Deus em Faro, às 8h30, e, como habitualmente, entro na sala de aula já ao 2.º toque, quando uma colega, cujo pai era capitão do exército, nos diz em surdina, “O meu pai foi chamado ao Comando do Exército, pois houve uma revolução em Lisboa e parece que até já derrubaram o governo, acabou a ditadura!” Ficámos excitadíssimas, mas ainda sem perceber muito bem o que significava tudo isto.  

Aguardámos que chegassem os professores com orientações, mas com muitas perguntas no ar “será que acabou a ditadura?” “as turmas vão ser mistas?” “será que podemos falar sem medos?” “somos mesmo livres? A diretora de turma chegou e, sem grandes explicações, mandou-nos para casa, até novas indicações aos Encarregados de Educação. E, assim fui eu para casa toda eufórica com a notícia da revolução que viera derrubar a ditadura, quando me deparo com outra notícia, que lançou um véu de tristeza sobre esse dia tão especial. O avô paterno havia falecido!

O dia 25 de abril é um dia marcante para Portugal e, para mim, de memórias contrastantes!"

 

Eduarda Pereira, Direção de Serviços de Recursos Humanos - PESSOAS

 

"No dia 25 de abril de 1974, na cidade do Funchal, na ilha da Madeira, tinha eu 11 anos, ouvi da minha mãe as seguintes palavras “Houve uma revolução em Lisboa. Espera-nos períodos de grande incerteza. Apesar de tudo, venha o que vier, penso que não podermos ficar pior do que já estamos agora”.

Era compreensível esta expectativa e ansiedade. Durante quase 50 anos, a vida era igual todos os dias. Trabalhar e regressar a casa e repetir o mesmo processo todos os dias. A comida escasseava, o lazer não acontecia por falta de oferta e de condições financeiras para financiar essas atividades. A nível intelectual as limitações eram enormes face ao controle dos movimentos, dos pensamentos e das atitudes dos cidadãos.  

Com o 25 de abril de 1974, tudo mudou. Mudaram as atitudes, os pensamentos passaram a poder ser expressos de forma livre e espontânea e as condições de vida dos portugueses poderiam melhorar significativamente. Tudo estava nas suas mãos."

 

Última atualização: 30 de abril, 2024